quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Descubra por que a confiança é a base de todos os relacionamentos

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Toda relação, seja de pai e filho, marido e mulher ou entre irmãos, tem uma espécie de caderneta imaginária em que cada um anota o que deve e o que pode cobrar do outro. Neste artigo, falo do dinheiro como fonte de reparação e de restabelecimento da confiança mútua.
Toda relação é baseada em troca: sempre existe um dar e um receber entre duas (ou mais) pessoas. E toda pessoa tem expectativas quanto ao que receber do outro e pretensões quanto ao que lhe dar. Num relacionamento, tudo é contabilizado: o que cada um faz ou deixa de fazer, os sacrifícios ou as omissões, a generosidade ou a mesquinhez, a confiança ou a traição. É como se existisse, na mente das pessoas, uma caderneta em que ficam registrados os créditos e as dívidas da relação. E, com base nessa caderneta, cada um cobra lealdade do outro, como se mandasse a seguinte mensagem: “Se eu fiz tal coisa por você, você fica me devendo a retribuição”.
Na família, a situação não é diferente. Ela dispõe de um sistema regulador que aplica regras e acordos subentendidos para organizar tais questões. Essa dinâmica reguladora busca restabelecer o equilíbrio anterior, o que pode acontecer por meio da punição do explorador (que pode até ser excluído do grupo familiar) ou por meio de um ato de reparação. As relações podem sofrer por problemas no dar e receber gestos de atenção e sacrifícios, e também no dar e receber dinheiro. Nos dois casos, as mágoas e as queixas são parecidas: alguém sente que deu mais do que recebeu e pode experimentar raiva, indignação, revolta por ter sido ingênuo, desejo de vingança, humilhação; outro pode achar que recebeu mais do que deu e se sentir culpado, em dívida, preso numa relação que não o satisfaz.
No casamento, por exemplo, cada um espera receber do outro amor, dinheiro, encorajamento, apoio e companheirismo. Mas essas expectativas nem sempre são conscientes e explícitas. Por isso, quando um decide fazer coisas pelo outro, está lhe comunicando implicitamente que espera uma recompensa no futuro.
Ainda é comum que a mulher, no “primeiro round” do casamento, opte por sacrificar o investimento em sua vida pessoal e profissional para se dedicar à casa e aos filhos, enquanto o marido conclui seus estudos e cresce na carreira. No “segundo round”, ela acha que chegou sua vez de buscar a realização profissional e espera contar com a ajuda do marido; acredita que ele, naturalmente, vai entrar na esfera doméstica e levar os filhos à escola, ao médico, ir ao supermercado, ficar em casa quando ela precisar se ausentar em função do trabalho, etc. Quando isso não acontece, o sentimento de ter sido explorada e enganada eclode e desencadeia uma verdadeira crise no casamento. A mulher quer que o marido salde a dívida que tem com ela. O marido pode, no entanto, não se sentir em dívida por achar que também ele, que mergulhou no trabalho, se sacrificou pela família. A saída para esse tipo de situação pode ser um meio-termo em que cada um se conscientiza do que está registrado nas suas cadernetas de créditos e dívidas. A partir daí, o casal pode fazer um acordo quanto à melhor forma de restabelecer o equilíbrio nas contas. O marido pode oferecer uma “indenização” à mulher pelo tempo em que ela ficou parada para ajudá-lo (investindo em um negócio para ela, por exemplo) e ela pode se comprometer a participar das despesas da casa quando tiver renda. O mais importante é eliminar ressentimentos que podem inviabilizar a recuperação da parte saudável do relacionamento. A reparação da injustiça pode se dar, portanto, com gestos de atenção e com dinheiro.
Sim, com dinheiro mesmo, porque o dinheiro está presente em toda relação. No casamento, existem dívidas ligadas ao que um deu -- ou não deu -- ao outro. Entre pais e filhos, existem dívidas ligadas, geralmente, ao que os pais proporcionaram aos filhos. Mas existem também situações em que os filhos se sentiram prejudicados pelos pais: ao não responsabilizar os pais pelos danos que sofreram, os filhos podem, na vida adulta, ficar paralisados, impedidos de crescer. Nesses casos, o dinheiro pode ser uma compensação simbólica pelo prejuízo causado. Um pai, por exemplo, pode ter feito seu filho passar por privações, mesmo tendo meios de lhe oferecer uma vida confortável, por acreditar que assim estava fortalecendo seu caráter. Mas esse filho pode crescer desenvolvendo sentimentos de desamparo e revolta contra o pai que não lhe garantiu segurança e proteção. A certa altura da vida, num encontro em que as mágoas e as intenções podem ser expressas e esclarecidas, pai e filho podem negociar um acordo e resolver com dinheiro as pendências entre eles. Quando alguém dá algo a outra pessoa, esse alguém o faz com uma intenção, mas o outro o recebe com sua própria interpretação. Para esse pai, educar com firmeza era dar amor. Para o filho, ser privado de conforto foi interpretado como não receber amor do pai.
Irmãos também mantêm um sistema de contabilidade própria e cada um espera que o outro respeite o que está no seu caderninho, como se só o seu registro valesse para ambos. Se um filho apanhou dos pais e se calou sobre a culpa do irmão, protegendo-o de apanhar também, ele cria uma expectativa que este, em outra oportunidade, vá retribuir com um gesto de lealdade. Quando isso não acontece, a relação é afetada. A reconciliação pode, então, ter lugar se houver um acerto de contas em dinheiro, com um irmão acudindo o outro em suas dificuldades financeiras, por exemplo.
Na família, não existe uma fronteira clara entre o que é negociável e o que não é: o que se dá ao outro esperando receber algo em troca ou o que se dá por obrigação é diferente na mente de cada um. E essas diferenças podem gerar grande confusão, que só pode ser resolvida com conversas francas e esclarecedoras do tipo: “Se você, filho, não entrar na faculdade, não vai ganhar um carro, ainda que tenhamos condições para lhe comprar um” ou “Eu fui dedicado e entrei na faculdade, e por isso espero que vocês, pais, me dêem um carro”.
Cada um deve expressar seus desejos. O passo seguinte é negociarem juntos as prioridades. Se a mulher quer fazer uma viagem e o marido quer comprar um carro, ambos devem esclarecer quais são as regras que determinam as prioridades, bem como examinar como anda sua relação de troca de gestos de atenção, como anda sua relação com dinheiro, quem ganha mais, quem gasta mais, quem guarda mais etc. Essa conversa deve acontecer num determinado local e numa determinada data, e encerrada ali. Pode ser retomada em outras ocasiões, marcadas com antecedência, até que as diferenças sejam resolvidas, mas o dinheiro não pode ser tema de discussões repetidas e intermináveis nas quais cada um expõe sua lista de queixas, ressentimentos e cobranças, tentando convencer o outro de seu ponto-de-vista, sem chegar a lugar algum.
Por fim, uma vez estabelecido e cumprido um acordo, deve-se instalar uma regra de prescrição para o que ficou pendente. Somente graças a um esforço honesto de cada um de assumir a responsabilidade por sua parte, de se colocar no lugar do outro e considerar seu ponto-de-vista que as pessoas poderão recuperar a confiança um no outro, que é a base de toda relação.

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