segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O que dizer nos primeiros momentos de uma conversa?

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Quem apresenta essa pergunta geralmente está preocupado com o que deve dizer e talvez acredite que o conteúdo daquilo que é dito é o mais importante para o sucesso da conversa.
Essa crença não está correta, já que no início das conversas o mais importante é a  forma como as coisas são ditas e as mensagens não-verbais: é através dessa comunicação que são passadas as principais informações sobre os sentimentos e atitudes das pessoas.
A importância daquela conversa leve e impessoal que acontece assim que duas pessoas se encontram tem sido subestimada e mal compreendida. Muita gente acha bobagem falar sobre esses temas superficiais e quer ir direto ao assunto mais importante. No entanto, é um erro pensar assim.
A grande importância que a comunicação não-verbal tem é um dos motivos pelos quais as pessoas começam as conversas dizendo coisas superficiais. Quando o tema que está sendo desenvolvido é leve e não muito envolvente, fica mais aparente a vontade de fazer o contato e não a importância do que está sendo dito.
Simultaneamente com esse conteúdo mais superficial, as mensagens não-verbais vão comunicando coisas do tipo:
“Olha, estou gostando de conversar com você!”.
“Fico à vontade com você.”
“Dentre todas as pessoas e acontecimentos aqui presentes, estou preferindo conversar com você.”
“Gosto muito do seu humor.”
“Estamos de acordo sobre o nível de intimidade que esta conversa deve ter e sobre os temas que devem ser tratados neste encontro.”
“Estou muito excitado por estarmos conversando.”
O melhor nome para esse tipo de conversa, creio eu, é “conversa-contato”. Esse nome traduz a principal função desse tipo de conversa: manter contato enquanto outros assuntos mais importantes vão sendo procurados ou produzidos.
 O conteúdo da conversa-contato:
Os conteúdos mais íntimos devem ser evitados logo no início de um relacionamento porque:
• São mais arriscados. Ao abordar um conteúdo mais pessoal, o falante pode se contrapor frontalmente à opinião ou aos valores do seu interlocutor. Isso pode ser uma péssima maneira de iniciar um relacionamento. A abordagem de assuntos pessoais exige um grau de intimidade maior do que aquele que existe entre pessoas que acabaram de se conhecer.
• Pressionam a outra pessoa a também revelar informações pessoais. Por exemplo, quando uma pessoa revela o seu estado civil, a sua faixa de renda ou o partido político que ela apóia, isso pressiona o seu interlocutor a fazer revelações semelhantes. A outra pessoa pode não estar disposta a falar sobre isso naquele momento.
Se um assunto muito íntimo foi abordado através de uma pergunta, cria-se uma situação constrangedora: se a pessoa responder, ela excede o que considera confortável. Se ela se negar, vai ter que confrontar, constranger ou frustrar quem formulou a pergunta.
Ao invés de fazer diversas perguntas, o que pode parecer um interrogatório, talvez seja melhor falar sobre as mesmas informações que se quer obter, ou seja, falar de si próprio, já que isso geralmente induz o outro a fazer o mesmo.

Por exemplo, dizer “O meu nome é X e sou empresário” induz a outra pessoa a também revelar o seu nome e a sua profissão.

Em uma conversa-contato típica entre pessoas que têm pouca intimidade, a ordem cronológica dos tipos de assuntos tratados é parecida com a seguinte:
1. Conversa sobre fatos e acontecimentos presentes no ambiente e acontecimentos recentes

A conversa-contato trata daquilo que está presente (“A festa está animada, não é?”, “Você está elegante!”) ou daquilo que aconteceu momentos antes (“Pegou muito trânsito?”) ou de assuntos públicos que estão ativados (“Como foi o feriado de Carnaval?”).
Alguns temas são quase obrigatórios nesse tipo de conversa, porque normalmente eles afetam pelo menos um dos interlocutores e falar sobre esses temas é mostrar preocupação com o seu bem-estar. Por exemplo, é desejável perguntar se a outra pessoa teve dificuldade para estacionar quando ele acabou de chegar a um lugar cheio, ou se pegou muita chuva, quando uma chuvarada acabou de cair.
2. Sondar a existência de amigos ou histórias de vida compartilhadas

Quem é a pessoa, o que ela faz, onde mora, por que está ali, como conheceu o anfitrião da festa, quais são os conhecidos em comum. Esses são alguns dos temas que usualmente são abordados logo no início da conversa.
Segundo Desmond Morris, famoso estudioso da comunicação, no início dos relacionamentos as pessoas que estão começando a se conhecer procuram identificar histórias de vida em comum, porque isso funcionaria como uma espécie de substituto de uma história comum que não tiveram (“Quanta coisa temos em comum: estudamos no mesmo colégio, conhecemos o aniversariante, torcemos pelo mesmo time e somos vegetarianos!”).
3. Descrever fatos e acontecimentos impessoais de uma forma não opinativa

Nesse tipo de conversa, há pouco risco de ofender ou entrar em conflito com a outra pessoa. Por exemplo, reproduzir as informações sobre fatos importantes que acabou de ouvir no noticiário da manhã é uma maneira de dar início a uma conversa sem os riscos do posicionamento pessoal.
4. Falar sobre coisas divertidas
Talvez esse seja mais arriscado do que os procedimentos anteriores. Por outro lado, esse tipo de conversa é mais prazerosa e mais eficaz para promover vínculos.
5. Comentar sobre pistas não-verbais oferecidas pelo outro e assuntos em andamento

Comentários sobre a aparência, sobre seu jeito e sobre temas em andamento também costumam ser mencionados entre conhecidos logo no começo do encontro.

Funções das conversas-contato
Os principais motivos e circunstâncias que produzem as conversas-contato são os seguintes:
- Ser parte do ritual de cumprimento

Esse tipo de conversa pode acontecer mesmo quando há um assunto agendado ou quando um dos interlocutores tem algo importante para ser dito. Por exemplo, muitas vezes, no meu consultório, esse tipo de conversa é usado para “quebrar o gelo”. Depois, segue-se um curto período de silêncio que indica o seu fim. Nesse momento, o paciente ou eu mudamos de assunto. Por exemplo, pergunto como foi a sua semana ou algo do gênero. Esse tipo de início também acontece nas conversas informais.
- Estabelecer e manter contato

Muitas vezes, ao entrar em contato com uma pessoa com quem queremos/devemos conversar, não sabemos exatamente sobre o que iremos falar. Esse tipo de conversa ajuda a manter o contato até descobrir assuntos que gerem conversa. Não podemos simplesmente chegar até a pessoa, cumprimentá-la e ficarmos calados ou desandarmos a falar de um assunto que só nos interessa.
- Mostrar interesse pela outra pessoa

Puxar conversa é um sinal importante de interesse pela outra pessoa e pelo relacionamento com ela. Em algumas circunstâncias, pode ser grave não conversar pelo menos alguns minutos com um conhecido que foi encontrado acidentalmente ou com uma pessoa que está sentada próxima. A ausência de conversa nessas duas circunstâncias pode indicar desinteresse pela pessoa.
- Demonstrar interesse pelo outro quando há pouco tempo para o contato

Muitas vezes o encontro vai ter que durar pouco tempo, mas as pessoas querem aproveitar o tempo disponível para mostrar o prazer que sentiram por encontrar com o outro. O pouco tempo disponível torna inconveniente iniciar assuntos mais sérios, que não poderão ter continuidade.
- Ser educado

A conversa-contato também acontece como uma manifestação de polidez. Nesse caso, por exemplo, ela é usada para mostrar interesse pelo interlocutor antes de passar aos assuntos mais impessoais. Enfim, antes de “conversar sobre o que realmente interessa”.
- Verificar se há disposição e disponibilidade para conversar

Durante o cumprimento e a conversa-contato, temos que avaliar se naquele momento a outra pessoa está disposta e disponível para conversar. Por isso, nos inícios dos encontros geralmente as pessoas se sondam mutuamente para verificar se o outro possui essa disponibilidade e se há algum assunto ativado para eles (por exemplo, preocupações, bons acontecimentos).
- Esquentar a conversa 

No início de uma conversa, as pessoas ainda podem estar frias: com a cabeça em outros lugares e assuntos. É necessário tempo e certos incentivos para que a pessoa se desligue do que estava fazendo e se concentre na nova conversa. Por isso, o envolvimento com a conversa atual pode só ocorrer depois de algumas estimulações (“Quando ele mencionou aquilo pela terceira vez, não resisti e revelei o que realmente estava sentindo”.)
- Encontrar, induzir e negociar assuntos 

Quando as pessoas não sabem de antemão sobre o que vão conversar, elas podem usar a conversa-contato para identificar se há algum assunto em comum, para achar assuntos mutuamente motivadores ou para tentar induzir o interesse em certos assuntos.
- Quebrar o incômodo silêncio

A conversa-contato pode acontecer quando um silêncio se prolonga e uma das pessoas não fica confortável. Por exemplo, quando duas pessoas acabaram de ser apresentadas, o silêncio pode indicar desinteresse em conhecer e desenvolver um relacionamento. As seguintes frases mostram como às vezes o silêncio pode incomodar: “Ele ficou em silêncio após o momento em que fomos apresentados. Encarei isso como uma grande descortesia e falta de interesse em conversar”.

Quando a conversa-contato é dispensável
A conversa-contato não é imprescindível em todos os encontros. Em várias circunstâncias é possível ir direto ao assunto ou ir do "Olá" direto para o assunto principal.
Isso acontece, por exemplo, quando:
• Já existe um assunto agendado para ser tratado. Nesse caso, esse tipo de conversa pode ser abreviado. Quando ela se prolonga, pode ser sinal de inibições (timidez, desconfiança, muita necessidade de acertar e impressionar o outro etc.).
• Há urgência para ir para o tema principal.
• As pessoas já conversaram recentemente.
• A conversa flui de um assunto para o outro, sem pausas.
• O silêncio não incomoda e pode ser até bem-vindo.

Usos inadequados da conversa-contato
“Falar só para tirar o ar da boca”

A conversa-contato pode aparecer em circunstâncias inadequadas como, por exemplo, para fugir de assuntos importantes. Muitas pessoas não têm interesse ou coragem para mostrar a verdadeira posição, então falam “amenidades”, já que esses temas são mais neutros. Um estudo mostrou que os tímidos usam a conversa-contato porque temem dizer algo mais arriscado ou ficar em silêncio.
Faça bom uso da conversa-contato e melhore os seus relacionamentos!

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