segunda-feira, 28 de maio de 2012

"Eu me decepcionei com ele (ou ela)”

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"Eu me decepcionei com ele (ou ela)”, profere a desgostosa parceira (ou parceiro), com a certeza ou o temor de que, por causa disso, tudo tenha ido por água abaixo. Não, nada se perdeu — exceto, talvez, o que deve ser perdido: vãs expectativas, ilusões, idealizações e a ingênua esperança de que o outro coincida com o personagem para ele criado pela ficção amorosa. A decepção estabelece os alicerces para a construção do amor sustentável: o verdadeiro conhecimento do outro e de si mesmo. Um sentimento incapaz de sobreviver à decepção não pode ser qualificado como amor.
O fruto da decepção é o conhecimento. Quando uma faceta inesperada e (ao menos parentemente) negativa de alguém se descortina, algo até então oculto ou silencioso se revela. Mesmo sendo avaliado como sombrio — ou indesejável, inadequado, inoportuno, frustrante —, o fato é que o traço agora transparente é provavelmente um atributo importante da pessoa. Compõe sua personalidade e lhe confere identidade, tanto quanto qualquer outra característica vista como positiva — a menos, claro, que o avaliador tenha cometido alguma injustiça, um erro de julgamento, algo assim. A propósito, não nos esqueçamos de que, em lugar de decepcionar, o revelado pode surpreender positivamente e, ainda assim, trazer à tona algo desconhecido.Enfim, quando algo sai do escuro, seja gratificante, seja decepcionante, abre-se o caminho para um conhecimento mais idôneo.
A pessoa a quem se revela o desconhecido experimenta ao mesmo tempo — e paradoxalmente — uma decepção consigo mesma: “Onde estavam meus olhos, que antes não viam o que agora percebem tão claramente?”. Ou seja, conhecer o outro é também conhecer-se melhor.
Tal situação desencadeia duas medidas importantes para o amadurecimento do vínculo: a possibilidade da aceitação e de aferir sentimento experimentado. Nessa hora, é o caso de se perguntar: “Qual é a disponibilidade que tenho para incluir a nova informação na visão até então parcial que eu formava da pessoa amada, sem com isso perder o senso amoroso? E como fica a visão que tenho de mim mesmo(a) agora que meu olhar foi desvirginado por algo inusitado?”
No quesito “aceitação”, a indagação talvez seja: “Eu dou conta de tolerar o que se revela sobre o outro e o que se inaugura em mim e me disponho a ressignificar a relação em bases mais seguras, mais maduras e mais realistas? Ou eu só consigo conceber uma relação — e só suporto me abrir para ela — caso me pareça próxima da perfeição?”
Em assuntos de amor, não existe o ideal, não se divisa o inequívoco, não se encontra o certo. O que se tem é o possível — e o possível é melhor do que qualquer um dos demais atributos almejados.
Quando um amante é capaz de acolher a realidade da pessoa amada, essa aceitação não só não questiona o amor, como também o torna mais forte, pois sustentado em sólida realidade. Aceitar não é “deixar barato”, fingir que não viu, ou relativizar a importância do atributo percebido. Aceitar é incluir o conteúdo revelado, reconhecer a importância dele — não apenas para seu portador, mas para a própria relação — e abrir-se para encontrar ouro onde aparentemente só há o descartável. O amor que decorre desse ato é confiável e tem condições de ser duradouro.

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