quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Tantos manuais e revistas nos ensinam como seduzir e conquistar, mas quase não se fala em como terminar.

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Muitos se preocupam em ter um look irresistível, um papo cativante, um charme fatal mas, e se a coisa não anda bem, não é o que você precisa ou deseja, o que fazer? Você sabe como terminar um relacionamento?  Ou como se safar quando é quem recebe a decisão de ser “terminado”? O fim nem sempre é o fim. Mas parece.
 
Lembro de uma história de um casal no carro, na hora do rush, com chuva, parado em uma esquina qualquer de uma grande metrópole. Um tempo parado, sem andar, contemplando a dança da água e do vento que açoitavam os vidros do carro, as árvores e tudo em volta. Conversavam apreensivos sobre se o filho pequeno saberia encarar, esperando na escola, o atraso iminente. Uma frase foi interrompida por um estrondo. Uma árvore frondosa caiu em cima do carro afundando o teto e acertando fatalmente a cabeça da mulher que ia no banco do passageiro. 

Isso foi um fim. Súbito, cruel e inapelável. O marido, impotente ainda que fisicamente intacto, teve que lidar com este final inesperado. E, com o atraso na coleta do filho, a um só tempo. Este tempo pode durar uma vida. E, de alguma forma, ainda que passe o luto, há de perdurar. Naquele átimo, durante aquela frase, a história daquela família foi interrompida. Todos sabemos: chove, árvores caem, acidentes acontecem e todos, todos, acabarão um dia. O resto é história.

"Já reparou que os beijos acabam antes de acabar o sexo? Beijo é mais íntimo."
 
Terminar um relacionamento é poder se transformar ante ele, transformando-o, e colocar-se diante da possibilidade de algo melhor. É transformação, mutação, deslocamento e, ainda que muito difícil, uma atualização do sentimento de unidade e individualidade que um relacionamento, por vezes, pode corromper. Muitos casais se separam e depois se reúnem por isso: porque o que os impulsiona um ao outro permanece intacto quando um, ou ambos, perde um pouco o prumo ou a noção de quem são à parte da parceria. Em outros casos simplesmente o vínculo se desfaz. E se desfaz bem antes que alguém tenha a coragem de interpretar desta forma, entender a necessidade de mudança e tomar coragem de por em prática. Já reparou que os beijos acabam antes de acabar o sexo? Beijo é mais íntimo.
 
Do outro lado desta tormenta, o encerramento,  há sempre a ameaçadora solidão. E o sentimento de impertinência, de fracasso, de não ser bom o suficiente para ninguém e não ser merecedor de um amor especial e duradouro. A autoestima está comprometida e, dependendo do tempo que durou o relacionamento, uma notável inabilidade para voltar a ser só e se colocar disponível. Pelo menos de uma forma respeitosa para consigo mesmo. Sim, porque muita gente volta à vida de solteiro achando que é tudo festa e que vai “tirar o atraso” vivendo um monte de experiências incríveis e divertidas. Quando, por dentro, não há nada de incrível ou divertido para oferecer em troca.

"Mulheres são mais hábeis para lidar com a dor, eu acho. Mas isso não importa. Em contas de amor ninguém sai lucrando".
 
É aí que mulheres pedem um abraço quando querem sexo e homens pedem sexo quando querem um abraço. Quando estão distanciados de si mesmos ou  de um projeto que lhes parecia definitivo; daquele sentimento profundo e confortável que é se sentir parte de alguma coisa grande. Talvez mulheres pensem que ficam mais desnorteadas quando não são validadas pelo amor ou desejo de alguém. Na minha opinião são os homens quem mais sentem dificuldades de se refazer depois de uma separação. Mulheres são mais hábeis para lidar com a dor, eu acho. Mas isso não importa. Em contas de amor ninguém sai lucrando. Quando um perde, todos perdem. Ninguém dança o tango sozinho. Nem sequer a dança da solidão. O que pode ser um conforto.

 
Lembro dos versos de Rita Lee e Paulo Coelho em "Cartão Postal": "O adeus traz uma esperança escondida. Pra quê sofrer com despedidas? Se quem parte não leva nem o sol nem as trevas e quem fica não esquece tudo o que viveu". Parece um pouco com o que escrevi em outra canção, “Mesmo Assim”, que fiz quando soube que iria ser pai, portanto um começo: "Tudo cai, tudo esfria, todo mundo vai embora um dia mas eu penso em você e quero você mesmo assim".
 
Só uma última coisa: o orgasmo é um fim. O fim de um desejo que se cumpriu. Terminar, por vezes, é só isso: se esvaziar de um desejo para que outro possa se formar. Fim é algo muito mais sério: é a definitiva incompletude. Fim é.

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