domingo, 16 de dezembro de 2012

Ser pai, ser mãe: escolha ou imposição?

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Do ponto de vista biológico, podemos dizer que na maior parte das vezes é fácil gerar uma criança.

Sexo sem proteção, combinado ao período fértil, mais uma dose de sorte e saúde durante os nove meses e o parto, eis a fórmula da produção de um bebê. E assim nascem muitas crianças, que acabam sem pai, nem mãe, soltas no mundo.

Há inúmeros casos de orfandade ou abandono, frutos de miséria, doença mental, dependência química, violência urbana e outras calamidades que nos assolam a cada esquina. Nossa sociedade pouco consegue fazer para virar a mesa e cuidar efetivamente dessas crianças desamparadas. As intervenções são promovidas por entidades públicas e privadas, com qualidade variável e resultados nem sempre felizes. Há projetos notáveis, com  adoções muito bem-sucedidas, há muito amor aqui e acolá, dirigido aos que foram abandonados à própria sorte.

O que me espanta é a situação dos filhos cujos pais são formalmente presentes. Uma família está constituída, e aparentemente trata-se de uma criança bem assistida, cuidada, sem privações ou dificuldades significativas. Só olhando de perto que a gente desconfia da situação. A criança desconhece o sabor da fruta fresca, tem aversão a legumes e se alimenta basicamente à base de “porcaritos” industrializados, ricos em sódio, corantes e conservantes, e pobres em nutrientes. Os pais, ou cuidadores, não querem ter trabalho, nem de preparar uma refeição equilibrada, tampouco de educar a criança e acostumá-la aos sabores naturais. Isso dá trabalho, exige paciência e disciplina.

A criança orfã de pais presentes geralmente tem sua educação terceirizada: babás, escola, motorista, professores particulares estão entre as opções disponíveis. Pode fazer muito bem a um garoto ou menina ter o pai ou a mãe lhe ensinando a andar de bicicleta, a mergulhar, a jogar futebol, a preparar o achocolatado matinal, a apreciar a beleza de uma canção, a entender um poema ou parábola. O convívio, bem de perto, significa troca de afetos, de saberes, de experiências, de olhares; ele ajuda a forjar uma pessoa com certos valores e habilidades especiais, capaz de lidar com a vida e suas agruras de um modo mais bacana, flexível e responsável.

Imagino que uma das razões que levam pais a disfarçadamente abandonar suas crias é a competição entre dedicar-se ao filho, tarefa por vezes desgastante, versus usufruir de alguns prazeres e dar conta de resolver as outras coisas da vida, seja o trabalho, esportes, as redes sociais, o lazer, o sexo. Quem já passou noites em claro vigiando o sono instável de uma criança doente sabe muito bem quanto isso é duro. No dia seguinte a criança pode ficar bem, mas o adulto estará acabado, e precisando ir ao trabalho, a despeito da noite maldormida. Esse aspecto vai favorecendo o sutil desapego da família para com a criança entre os segmentos sociais que podem contar com serviços de terceiros, ou com a vista grossa da própria família que não banca  a parentalidade da maneira como se deveria.

A criança vai mal na escola? Simples, basta fazer uma transferência para uma escola que não reprove. O adolescente está usando drogas? Simples, vamos internar em algum lugar ou proibir certas amizades.

Para se viver ao lado de um filho muitas questões precisam se reabordadas.

Quem são os amigos de sua filha?

Que sonhos povoam sua imaginação?

Ela sente medo do quê?

Qual sua maior coragem?

O que sua criança espera de você, pai ou mãe?

Do que ela precisa e o que vai lhe ajudar a ser um adulto pleno?

O quanto o adulto está disponível e quais suas disponibilidades e limites para doar-se parentalmente, investindo na formação de uma pessoa?

As questões são muitas, e as respostas parecem difíceis, nubladas, incertas.

Ter filho não é obrigação, e deveria ser uma escolha. Parte do problema tem sido os que entendem a parentalidade como um papel social a ser preenchido, com a mesma casualidade de quem compra extensão de cabelos, dirige um veículo mais poderoso, viaja para o local da moda ou desfila aparências mundo afora. Tomara que isso mude, tem órfão demais por aí...

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