sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Você se sente só às vezes? A vida dos outros parece melhor que a sua?

/ /
TODO MUNDO SÓ, TODO MUNDO FELIZ
Moças, às vezes eu passo uma faquinha de letras e deletes nas cartinhas de vocês. Tudo por questão de espaço. Mas, outras vezes, cortar muito é cortar muito. Tem dias que deixar a leitora dizer tudo é permitir que você e eu falemos ainda mais. Em silêncio.
Porque sim, eu li e eu entendi o que a nossa colega aí desovou em palavras. Sim, sim. Eu entendi mesmo.
A resposta que tenho aqui é uma não resposta. É, na verdade, uma repetição: no fim, somos todos companheiros na solidão.
Viver é ser sozinho com um monte de gente sozinha. E quando eu digo isso, eu digo isso sem nenhum pingo de tristeza ou de peso. É assim porque é assim. Uma pena tem o peso de uma pena, e uma tonelada é uma tonelada. São o que são. Pesados ou leves, apenas na comparação.

Moças, acho de verdade que estamos diante de um problema sério: nossa geração é uma geração de felicidades que se vendem como possíveis. Venho reparando – e asredes sociais são uma batatinha nesse sentido – que há um surto de sucesso, de alegria, de opinião por aí.
Uma passada de olho pelo que as pessoas postam e curtem devolve tudo aquilo que você precisa saber e ver para se sentir docemente menor que o próximo. Entendem? Eu diria que a nossa geração é a geração do fã. Você, eu, ele e ela, todo mundo aqui de repente descobriu que gosta de ser fã daquela pessoa logo ali.
Repare: seu amigo sempre fez a viagem mais sensacional. Há sempre uma foto, postada numa sexta-feira à tarde, em que um fulano, de um jeito inocente, exibe o pôr do sol que você, por trás da tela, só pode sentir por trás da tela – porque está trabalhando, porque está em casa, porque não está lá. Uma selfie é um cartaz de si mesmo. Um post, um auto-slogan.
Há sempre um sorvete inesquecível que alguém está provando e uma festa tão animada ali, acontecendo via Instagram. Seu amigo é sempre amigo de alguém importante. Seu conhecido viaja o tempo todo. Um colega abriu uma empresa e aquela mãe ali encontrou o sentido da filha… digo, da vida.

E a gente gosta. Ah, como a gente gosta. É like pra tudo que é lado. Quantos likes você já soltou hoje, hein? E numa semana? Foram quantas curtidas? E quantos você recebeu? Você chamou alguém -  uma amiga ou conhecida – de “linda”, de “musa”, de “gata” porque a amiga – ou conhecida – postou uma foto em que ela nem estava tão “gata”, “musa” e “mara” assim? Ou ela estava mesmo tudo de bom? Ah, moças. Ah, moças… Reparem, reparem: somos da geração do fã. Ou melhor, somos “a” geração do fã: temos quinhentos seguidores e seguimos seiscentos. Se você me aplaudir, eu te aplaudo. E se você me curtir, eu te curto. Mas se nada acontecer, e ninguém curtir e eu não estiver ali, observando aquele monte de vida feliz e ativa, o que eu sou?

A MATEMÁTICA DE SOMAR E CHEGAR A MENOS
Meninas, prossigo num exercício: eu posto uma opinião qualquer e dou joia numa foto qualquer. Assim, sem muito esforço, lá vem meu postulado: sou sempre um pouco menor do que aquilo que eu curto. E assim, sem muito esforço, lá vem meu segundo postulado:todo mundo é um pouquinho melhor do que o outro. O que, no fundo, faz da gente um pouco pior do que tudo.
Sim, sim. Percebem? Nós, nessa sanha de amar qualquer coisa, estamos sempre um pouco abaixo de qualquer coisa. Um pouco mais sozinhos, ao fim.
A leitora aí de cima se sente só. Ela não tem o namorado que deveria ter, não fez o filho que poderia e, sem o filho, ainda não encontrou aquele sentido de vida especial. O emprego é só um emprego, e os amigos, às vezes, são meio estranhos. No fundo, ela sente que se lesse e visse aquilo que ela é, numa rede social, ela provavelmente não  se curtiria.

Quantos likes a sua vida real receberia, hein? Quanto você se daria?
Moças, é tarde, o tempo corre e o passarinho aqui no galho não sossega. Teria muito a dizer – sobretudo sobre a vida fora da rede social, que também anda causando tanto mal –, mas vou dizer só aquilo que consigo agora.
A gente precisa começar a gostar menos de tudo. A entender que a felicidade, a vida de pôr de sol, é a vida do jeca, do pateta, do bobo, do pascácio. Que perseguir uma alegria plena, que aplaudir tudo o que os outros fazem, que esperar o aplauso do outro, no fim, é viver um tipo de escravidão feliz.
A vida não é feita de felicidade. E a felicidade não é um fim. A felicidade de verdade é aquela que acontece quando acontece, que vai embora quando vai embora, que  volta quando volta e que, quando dá vontade de ser compartilhada, é compartilhada com quem está lá para compartilhar. Nunca aqui. Ou quase nunca.

Entender que a vida é muito menos do que aquilo que a gente faz os outros pensar – e menor ainda do que aquilo que os outros fazem a gente pensar – é ver a vida em sua imensidão.
Ter ou não ter um filho nunca foi a questão. O emprego dos sonhos não existe. O amor definitivo é uma ilusão. E os amigos mudam.
Moças, ser triste, se sentir sozinho… Moças, ser feliz e estar em grupo… Tudo faz parte. Tudo acontece. Ao mesmo tempo e separado. A vida real tem feijão no dente e tem uma praia deserta. Tem silêncio incomodo e tem o riso solto. Tem trânsito e tem coqueiro. Tem o sexo inesquecível e o beijo murcho. Às vezes dá certo com um e às vezes dá errado com esse mesmo um. A vida é só isso aí mesmo, entendem? E ela não está ali, naquilo que a gente divulga pros outros e naquilo que os outros divulgam pra gente.
O amor virá quando vir. E irá se tiver de ir. Por culpa da gente e também porque não é culpa da gente. A grande viagem existe dentro da viagem terrível. Uma grande memória não tem filtro de imagem. Um sorvete inesquecível pode ser de pote e estar guardado na geladeira. Você não precisa se sentir mal por não ir àquela festa. Mas  também pode se sentir bem se for e ela, a festa, no fim, for meio ridícula. Porque a vida é só isso, aquela famosa história contada por um idiota, cheia de som, de fúria, de tropeçadas, de alegrias finitas. E de tristezas.

Digo isso com a maior das felicidades: aquela que faz a gente dormir bem, porque faz a gente entender que, no fim, viver é ir perseguindo esse entendimento, essa elevação: de alegria finita em alegria finita, fazemos uma alegria quase infinita. Não fazemos? Ah, moças.A maior das felicidades é a menor das felicidades. O maior amor é o menor amor. Porque, feitas as contas, toda história deveria ser curta mas infinita no instante em que acontece. Porque, feitas as contas, toda história que dura tempo demais acaba.
E repito esta belezinha: a maior das felicidades, moças, é aquela que faz a gente dormir bem. Não acontece sempre. Mas acontece. Quando não acontece, o passarinho ali da esquina  canta feito um doido. Agora, veja pelo lado bom. Vejo pelo lado bom: amanhã, meninas, amanhã vai dar  um sono daqueles, lascado.

Amanhã dormiremos melhor.


J. Antônio




Nenhum comentário:

Postar um comentário

As respostas no Blog não tem custo algum, mas devido a quantidade de perguntas você tem que esperar na fila em torno de 5 a 10 dias

Precisa de uma resposta urgente, marque uma consulta particular no

email dicasderelacionamento@hotmail.com

Se algum texto publicado por aqui for de sua autoria, nos envie o link para que possamos dar os créditos. Se não autoriza a publicação de seu texto por aqui nos comunique que retiramos.

A edição desse Blog se reserva ao direito de deletar, sem aviso ou consulta prévia, comentários com conteúdo ofensivo, palavras de baixo calão, spams ou, ainda, que não sejam relacionados ao tema proposto pelo post do blog ou notícia.

Volte sempre: Déia Fargnoli

Postagens relacionadas

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Siga meu Facebook