domingo, 21 de agosto de 2016

Na mira do espelho: O reflexo da sua imagem em você e nos outros

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Ser você mesmo é um imenso privilégio, uma honrosa tarefa pois você é único, não há réplicas! Ainda que possua um irmão gêmeo, determinadas particularidades dirão respeito apenas a você. A maneira de pensar, agir, o modo como expressa as ideias, a forma de cultivar os vínculos sociais, o tipo de choro, a gargalhada, o modo como lida com a tristeza… enfim, há um jeito de existir que é somente seu. Já parou para pensar nisso? Trata-se de algo tão óbvio que costuma ser negligenciado por muitas pessoas.

Fale sobre você

Quer um exemplo? Seleção de pessoal. Entrevista individual. Peço para o candidato falar de si. Esse momento possui uma conotação singular, pois muitas vezes revela a dificuldade/facilidade das pessoas em falarem sobre elas mesmas. Geralmente, costuma ser uma tarefa pouco praticada. Nesse sentido, presenciei diversas situações em que o candidato ficou constrangido por não saber direito o que dizer. “ Nossa, agora você me pegou! No meu currículo tem tanta coisa que poderiam me perguntar e eu não sei o que falar sobre mim” – Eis um dos muitos relatos que escutei. Entretanto, também surgem discursos de seres humanos perfeitos, cujas qualidades pareciam fazer parte de um “decoreba” para impressionar os ouvintes. Na verdade, para o empregador, o que interessa é a visão que o candidato tem de si e não a que gostaria de transmitir.
Na clínica, ocasião onde o paciente não está sendo avaliado para um processo seletivo, também é comum presenciar a dificuldade de muitos em se descreverem. No entanto, com o desenrolar do processo psicoterapêutico, quando sua auto-percepção está bastante ativa em relação ao que lhe cerca, surge a queixa de “ eu não gosto da imagem que os outros tem de mim. Não gosto da forma como costumo ser tratado”. Esse momento revela-se proveitoso para resgatar junto ao paciente a sua própria imagem.

E a percepção dos outros sobre você?

Tal descompasso tende a incomodar bastante. Assim, há algo por trás dessa auto-percepção capaz de enaltecer e também de prejudicar a sua imagem perante o outro. Estou me referindo à definição que cada um tem de si, ao modo que cada um se enxerga. Será que é semelhante à percepção que o outro tem de você? Bem, a maneira como nos consideramos, o lugar onde nos colocamos faz toda a diferença na visão que o outro tem a nosso respeito e até na forma como somos tratados.
Geraldo (nome fictício) demorou certo tempo para perceber que era muito complacente com seus funcionários e que estes faltavam demais ao trabalho, além de não atribuírem a importância devida às suas ordens. Através dos desdobramentos da terapia, ele chegou à conclusão de que estava sendo bonzinho demais com os outros (e ruinzinho para si). O lugar de respeito almejado por ele estava em desacordo com sua própria postura, fruto do receio de desagradar sua equipe. Logo, estava declarado o conflito entre a lente em que Geraldo se via, a que seus funcionários o viam e a que gostaria que fosse visto. Refletir a respeito de tais aspectos pôde lhe trazer uma série de nuances capazes de tornar mais transparente e equilibrada a maneira de “ser quem ele é”.
E quanto àqueles que se superestimam e deixam bem claro para todos à sua volta que são os melhores? É assim que devem agir para serem valorizados? Excelente pergunta para eles pensarem. Há quem se sinta profundamente perturbado com o rótulo de esnobe, arrogante, presunçoso etc. Por outro lado, há também os que não se importam com a opinião dos outros e agem como se sozinhos vivessem.
Em ambos os casos, se em um determinado momento despontar uma sensação de desconforto, a ponto de levar a situações de aborrecimento no convívio social, talvez seja uma boa oportunidade para repensar acerca da própria conscientização do contato com o mundo. Existem pessoas que apresentam extremo talento para tal, porém a terapia se mostra um tratamento imprescindível para quem possui dificuldade em realizar essa discriminação.

Um mergulho psicológico

Já que estamos em constante convívio com o outro, nas mais diversas esferas (trabalho, amizade, relacionamento amoroso, família), o olhar alheio possui um papel importante na nossa constituição como indivíduo de relação.
E nessa atmosfera de olhares profundos, deixo para Fernando Pessoa o objetivo de instigar e fazer refletirem seus leitores…
“ SORRISO AUDÍVEL DAS FOLHAS,
NÃO ÉS MAIS QUE A BRISA ALI.
SE EU TE OLHO E TU ME OLHAS,
QUEM PRIMEIRO É QUE SORRI?
O PRIMEIRO A SORRIR RI.
RI, E OLHA DE REPENTE,
PARA FINS DE NÃO OLHAR,
PARA ONDE NAS FOLHAS SENTE
O SOM DO VENTO PASSAR.
TUDO É VENTO E DISFARÇAR.
MAS O OLHAR, DE ESTAR OLHANDO
ONDE NÃO OLHA, VOLTOU;
E ESTAMOS OS DOIS FALANDO
O QUE SE NÃO CONVERSOU.
ISTO ACABA OU COMEÇOU?
Referência:
Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995), p.152.


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